Professores ApaixonadosProfessores e professoras apaixonadas acordam cedo e
dormem tarde, movidos pela idéia fixa de que podem mover o mundo.
Apaixonados, esquecem a hora do almoço e do jantar: estão preocupados com as
múltiplas fomes que, de múltiplas formas, debilitam as inteligências.
As professoras apaixonadas descobriram que há homens no magistério
igualmente apaixonados pela arte de ensinar, que é a arte de dar contexto a todos
os textos.
Não há pretextos que justifiquem, para os professores apaixonados, um grau a
menos de paixão, e não vai nisso nem um pouco de romantismo barato.
Apaixonar-se sai caro! Os professores apaixonados, com ou sem carro, buzinam o
silêncio comodista, dão carona para os alunos que moram mais longe do
conhecimento, saem cantando o pneu da alegria.Se estão apaixonados, e estão,
fazem da sala de aula um espaço de cânticos, de ênfases, de sínteses que
demonstram, pela via do contraste, o absurdo que é viver sem paixão, ensinar sem
paixão.
Dá pena, dá compaixão ver o professor desapaixonado, sonhando acordado com a
aposentadoria, contando nos dedos os dias que faltam para as suas férias,
catando no calendário os próximos feriados.
Os professores apaixonados muito bem sabem das dificuldades, do desrespeito,
das injustiças, até mesmo dos horrores que há na profissão.
Mas o professor apaixonado não deixa de professar, e seu protesto é continuar
amando apaixonadamente.Continuar amando é não perder a fé, palavra pequena
que não se dilui no café ralo, não foge pelo ralo, não se apaga como um traço de
giz no quadro.
Ter fé impede que o medo esmague o amor, que as alienações antigas e novas
substituam a lúcida esperança.Dar aula não é contar piada, mas quem dá aula
sem humor não está com nada, ensinar é uma forma de oração.Não essa oração
chacoalhar de palavras sem sentido, com voz melosa ou ríspida. Mera oração
subordinada, e mais nada.
Os professores apaixonados querem tudo.
Querem multiplicar o tempo, somar esforços, dividir os problemas para
solucioná-los.
Querem analisar a química da realidade. Querem traçar o mapa de inusitados
tesouros.Os olhos dos professores apaixonados brilham quando, no meio de uma
explicação, percebem o sorriso do aluno que entendeu algo que ele mesmo,
professor, não esperava explicar.
A paixão é inexplicável, bem sei. Mas é também indisfarçável.*
Um comentário:
Esse poema é lindo!!!
É bem isso mesmo a deliciosa e penosa ao mesmo tempo o papel de educador.
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