segunda-feira, 20 de outubro de 2008







Professores ApaixonadosProfessores e professoras apaixonadas acordam cedo e


dormem tarde, movidos pela idéia fixa de que podem mover o mundo.

Apaixonados, esquecem a hora do almoço e do jantar: estão preocupados com as


múltiplas fomes que, de múltiplas formas, debilitam as inteligências.


As professoras apaixonadas descobriram que há homens no magistério


igualmente apaixonados pela arte de ensinar, que é a arte de dar contexto a todos


os textos.

Não há pretextos que justifiquem, para os professores apaixonados, um grau a


menos de paixão, e não vai nisso nem um pouco de romantismo barato.

Apaixonar-se sai caro! Os professores apaixonados, com ou sem carro, buzinam o


silêncio comodista, dão carona para os alunos que moram mais longe do


conhecimento, saem cantando o pneu da alegria.Se estão apaixonados, e estão,


fazem da sala de aula um espaço de cânticos, de ênfases, de sínteses que


demonstram, pela via do contraste, o absurdo que é viver sem paixão, ensinar sem


paixão.


Dá pena, dá compaixão ver o professor desapaixonado, sonhando acordado com a


aposentadoria, contando nos dedos os dias que faltam para as suas férias,


catando no calendário os próximos feriados.

Os professores apaixonados muito bem sabem das dificuldades, do desrespeito,


das injustiças, até mesmo dos horrores que há na profissão.

Mas o professor apaixonado não deixa de professar, e seu protesto é continuar


amando apaixonadamente.Continuar amando é não perder a fé, palavra pequena


que não se dilui no café ralo, não foge pelo ralo, não se apaga como um traço de


giz no quadro.

Ter fé impede que o medo esmague o amor, que as alienações antigas e novas


substituam a lúcida esperança.Dar aula não é contar piada, mas quem dá aula


sem humor não está com nada, ensinar é uma forma de oração.Não essa oração


chacoalhar de palavras sem sentido, com voz melosa ou ríspida. Mera oração


subordinada, e mais nada.

Os professores apaixonados querem tudo.

Querem multiplicar o tempo, somar esforços, dividir os problemas para


solucioná-los.

Querem analisar a química da realidade. Querem traçar o mapa de inusitados


tesouros.Os olhos dos professores apaixonados brilham quando, no meio de uma


explicação, percebem o sorriso do aluno que entendeu algo que ele mesmo,


professor, não esperava explicar.

A paixão é inexplicável, bem sei. Mas é também indisfarçável.*

Um comentário:

Diana, Elida e Paula disse...

Esse poema é lindo!!!
É bem isso mesmo a deliciosa e penosa ao mesmo tempo o papel de educador.